Falando a R-Sertaneja
Tudo
que se menciona do caipira aqui é informado para todo Campesino.
PIRACICABA
HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Entrevistado: Benedito Onofre Siviéro
Com absoluta exclusividade Benedito Siviéro
concedeu essa entrevista á Rádio Educadora de Piracicaba e aos Jornais Tribuna
Piracicabana, Tribuna de Rio das Pedras e Tribuna de São Pedro.
Extremamente reservado, apesar de ser muito
assediada pela chamada “grande imprensa”, tanto escrita, falada e
televisionada, Benedito mantém-se longe dos holofotes, ao contrário dos
inúmeros ídolos que interpretam suas composições.
Cantores como João Paulo e Daniel,
Chitãozinho e Chororó, Christian e Ralf, Gian e Giovanni, Joaquim e Manoel,
Teodoro e Sampaio, Milionário e José Rico, Mato Grosso e Matias, Duduca e
Dalvan, Gilberto e Gilmar, César e Paulinho, Tibagi e Miltinho, Belmonte e
Amarai, Lourenço e Lourival, Pedro Bento e Zé da Estrada, Trio Parada Dura,
Peão Carreiro e Zé Paulo, Zico e Zéca, Zilo e Zalo, Rudy e Roney, Wellington e
Willian, Jad e Jefferson, Preferido e Predileto.
Esses são alguns dos interpretes de suas mais
de mil músicas compostas por Benedito Siviéro.
Sem nenhum exagero podemos dizer uma grande
parte da população brasileira um dia ouviu pelo menos um trecho de uma de suas
composições.
Afável, simples, Benedito fala com a
naturalidade do seu trabalho: traduzir as emoções dos corações apaixonados,
algo que faz com a maestria própria dos grandes gênios.
Sua fala direta, carregada de emoções traduz
os sentimentos que só os apaixonados entendem! Benedito Siviéro é com absoluta
certeza a razão de sucesso de muitos artistas brasileiros!
Algumas das suas obras: A mancha do pecado
(c/ Biguá)
• A marca da traição (c/ Zalo)
• A volta do seresteiro (c/ Zalo)
• Abandono (c/ Paiolzinho)
• Abismo da dor (c/ Nízio)
• Abismo da vida (c/ Palmito e Jaime Marques)
• Abismo de ilusões (c/ Sulino e Marrueiro)
• Aliança (c/ Pedro Bento)
• Aliança abençoada (c/ Zalo)
• Alma aventureira (c/ Luiz de Castro)
• Alma de boêmio (c/ Tião Carreiro)
• Alma inocente (c/ Zalo)
• Amarga confissão (c/ Zalo)
• Amargura (c/ Miltinho Rodrigues e Zeza
Dias)
• Amor em segredo (c/ Basílio)
• Aproveita Minha Gente (c/ Ronaldo Adriano)
• Cachorro amigo (c/ Luiz de Castro)
• Canção da madrugada (c/ Sebastião Aurélio)
• Confissão (c/ Miltinho)
• Confissão de boêmio (c/ Sereno)
• Desengano (c/ Tião Carreiro)
• Desse jeito não vai dá (c/ Corumbá)
• Deusa da madrugada (c/ Sebastião Victor)
• Drama da vida (c/ Flor da Serra)
• Escuta minha canção (c/ José Vito)
• Espelho da vida (c/ Paiolzinho)
• Esperança perdida (c/ Osvaldo Galhardi)
• Espuma de cerveja (c/ Toni Gomide)
• Falsos carinhos (c/ Pirassununga)
• Flor da boêmia (c/ Zalo)
• Flor da lama (c/ Paiolzinho)
• Flor proibida (c/ Miltinho Rodrigues)
• Foi um sonho (c/ Benedito da Silva)
• Homem de bem (c/ Luiz de Castro e Sulino)
• Ingratidão (c/ Luiz de Castro)
• Luz vermelha
• Mágoa cruel (c/ Zé do Carro)
• Meu crescimento (c/ Sebastião Aurélio)
• Meu regresso (c/ Antonio Mariani)
• Minha mágoa, minha dor
• Mula granfina (c/ Pirassununga)
• Mulher de ninguém (c/ Paiolzinho)
• Mulher dos meus sonhos (c/ Joel da Costa
Leite)
• Mulher inocente (c/ Zilo)
• Negócio de sócio (c/ José Felipe)
• O destino não quis o nosso matrimônio (c/
Miltinho Rodrigues)
• O dinheiro compra tudo (c/ Luiz de Castro)
• O mesmo amigo (c/ Rocha de Menezes)
• O silêncio do seresteiro (c/ Zalo)
• Palavra de honra (c/ Ronaldo Adriano e Rosa
Quadros)
• Pião vira-mundo (c/ Campanha)
• Pranto amargo (c/ Miltinho)
• Preço da traição (c/ Zalo)
• Primeira ilusão (c/ Vicente de Oliveira)
• Queixumes de amor (c/ Zé da Estrada)
• Rainha da traição (c/ Sebastião Victor)
• Rainha do meu coração (c/ Barrinha)
• Recado mortal (c/ Goiá)
• Regresso de boêmio (c/ Paiolzinho)
• Rei da capa (c/ Pirassununga)
• Remorso (c/ Jeca Mineiro)
• Rescisão de contrato (c/ Sulino)
• São João Batista (c/ Vieirinha)
• Sentenciado (c/ Nízio)
• Serenata do adeus (c/ Nascimento Filho)
• Seresteiro do amor (c/ Leôncio/Leonel)
• Sistema antigo (c/ Teddy Vieira)
• Sombra do passado (c/ Zilo)
• Sonho de amor (c/ Teddy Vieira)
• Taça da dor (c/ Nízio)
• Taça da saudade (c/ Miltinho)
• Taça vazia (c/ Miltinho)
• Tango da meia-noite (c/ Zilo)
• Tango da traição (c/ Zalo)
• Toalha de mesa (c/ Luiz de Castro)
• Triste caminho (c/ Miltinho)
• Última noite (c/ Zalo)
• Vestido branco (c/ Ronaldo Adriano e
Mangabinha)
• Violão amigo (c/ Zilo)
Em seu repertório predominam as canções
rancheiras, tangos e Guarânias. Suas composições foram gravadas por diversos
intérpretes, entre os qual Tião Carreiro e Pardinho Zilo e Zalo, Zico e Zeca,
Campanha e Cuiabano, Tibagi e Miltinho, Sulino e Marrueiro, Chitãozinho e
Xororó, Chico Rey e Paraná e Sérgio Reis, entre outros.
Teve sua primeira composição gravada em 1953,
"Pião vira-mundo", moda campeira composta com Campanha e gravada pela
dupla Campanha e Cuiabano.
Em 1958 compôs com Zalo o cateretê "A
volta do seresteiro", gravado pela dupla Zilo e Zalo no primeiro disco
gravado por essa dupla.
Em 1959, compôs com Paiolzinho a guarânia
"Flor da lama", gravada por Zé Tapera e Paiolzinho, e com Nízio
compôs a rancheira "Abismo da dor" gravada por Pedro Bento e Zé da
Estrada.
Em 1960, compôs com Zalo o tango "Alma
inocente" e a canção rancheira "Última noite", gravadas por Zilo
e Zalo. No mesmo ano, compôs com Tião Carreiro o tango "Alma de
boêmio", gravado por Tião Carreiro e Pardinho, e com Teddy Vieira a
guarânia "Sonhos de amor", gravada por Tibagi e Miltinho.
Em 1961, teve gravadas, entre outras, as
composições "Amargura", canção rancheira, em parceria com Miltinho e
Zeza Dias e gravada por Tibagi e Miltinho, "Sentenciado", corrido em
parceria com Nízio e gravado por Leôncio e Leonel e "Confissão de
boêmio", corrido feito em parceria com Sereno e gravado pelo Trio Aliança.
Ainda nesse ano, fez sucesso com o tango
"Taça da saudade", com Miltinho gravado pela dupla Tibagi e Miltinho.
Em 1962, teve diversas composições gravadas
pela dupla Zilo e Zalo, entre as quais "Remorso", canção rancheira
feita com Jeca Mineiro, "Meu regresso", tango com Antônio Mariani e
"Serenata do adeus", toada com Nascim Filho.
Em 1963, Caçula e Marinheiro gravaram a
canção rancheira "Meu crescimento", de parceria com Sebastião
Aurélio, e Zilo e Zalo gravaram o "Tango da traição", de parceria com
Zalo.
Em 1964, Silveira e Barrinha lançaram a valsa
"Rainha do meu coração", de parceria com Barrinha e Zilo e Zalo
gravaram de sua parceria com Zalo o carrilhão "Aliança abençoada".
Em 1986, Chitãozinho e Xororó gravaram dele e
Luiz de Castro, "O dinheiro compra tudo".
Em 1988, Lourenço e Lourival gravaram dele e
Luiz de Castro, "Cachorro amigo" e "Toalha de mesa".
No mesmo ano, Gian e Giovanni gravaram dele e
Toni Gomide "Espuma de cerveja".
Em 1991, o, Trio Parada Dura lançou
"Palavra de honra", dele, Ronaldo Adriano e Rosa Quadros, e
"Vestido branco", dele, Ronaldo Adriano e Mangabinha.
Em 1993, teve a música "Negócio de
sócio", com José Felipe gravada por Sérgio Reis na BMG.
Em 1999, teve as músicas "A marca da
traição", com Zalo; "Violão amigo", "O silêncio do
seresteiro" e "Mulher inocente", com Zilo; "O mesmo amigo",
com Rocha Menezes; "Meu regresso", com Antonio Marani, e "Sombra
do passado", relançadas no CD "Raízes sertanejas" com os
sucessos da dupla Zilo e Zalo, da gravadora EMI.
Em 2001, sua composição "Aproveita Minha
Gente", com Ronaldo Adriano foi destaque na voz da dupla Chico Rey e
Paraná.
Senhor Benedito Onofre dos Santos qual é a
sua idade?
Dia 20 de outubro eu fiz 74 anos.
Sou nascido em uma cidade próxima a
Araraquara chamada Boa Esperança do Sul.
Eu tenho o privilégio de ir mudando de ares
conforme desejo.
Moro em São Paulo, em Santo André , fico uns
tempos em Boa Esperança ,
fico uns tempos na casa de Moisés Augusto aqui na cidade de Rio das Pedras,
fico uns tempos também em Itapetininga na casa de outros amigos.
Meu pai e minha mãe morreram, eu fiquei
sozinho, não tenho família, gosto mais de andar, não ficar parado em um lugar
só!
Sou solteiro, nunca me casei! Fico em
Londrina, Campo Grande, Goiânia, a maior parte do tempo tenho permanecido em
Piracicaba.
Conheci a família do Moisés Augusto, sua esposa
Dona Isabel, Garcia, Cezar e Paulinho.
O Craveiro e o Cravinho eu já conheço há
muito tempo!
O Evaldo Augusto da imprensa é um grande
amigo.
São pessoas com quem estabeleci um laço de
amizade e respeito que são muito importantes em minha vida.
O senhor toca algum instrumento?
Não toco nenhum instrumento.
Só escrevo as letras das músicas.
Comecei a trabalhar na música em 1950 com 19
anos de idade.
Meus pais sempre trabalharam na roça.
Em 1956 eu já tinha desenvolvido um bom
trabalho na música, trouxe-os então para São Paulo.
Na época eu tinha 27 anos de idade.
Como o senhor descobriu a música?
Quando eu morava na roça, em Boa Esperança , eu já
escrevia na escola. Gostava de escrever poesias, sempre me interessei por isso!
Aos 16 anos de idade comecei a escrever
alguma coisa!
Mas na época não conseguir gravar porque
morava na roça..
Só em 1950, quando fui para São Paulo é que
consegui gravar.
Eu fazia as letras, e mandava para um amigo
chamado Teddy Vieira, um compositor muito famoso que infelizmente faleceu, ele
gravava com as duplas e punha o meu nome e o dele como compositores.
O Teddy gostava muito das minhas composições.
O tema principal das suas letras qual era?
Sempre o romantismo.
A rotina do casal não feliz.
Se você escrever uma musica do casal feliz
que vive nas mil maravilhas não tem comércio!
Para a música ser comercial tem que ser do
casal infeliz que vive entre tapas e beijos!
O Senhor foi namorador?
Nunca fui!
Exagerado não!
Fui normal.
Para ter inspiração tem que ter um pouco de
desilusão?
Eu faço as músicas observando as desilusões
alheias!
Desde a primeira musica que eu fiz,
“Seresteiro da Lua”, “Taça da Dor”, “Flor da Lama”, “A Mulher de Ninguém” “Alma
de Boêmio” todas essas músicas eu fazia das desventuras alheias, baseando na
vida de alguém. Quando você faz uma música, ela pode ser sua, intima, mas ela
bate uma grande parcela da sociedade!
O senhor morava aonde nessa época?
Morava em Santo André.
O senhor gostava de freqüentar a noite?
Não freqüentava não!
Ás vezes devido ao trabalho, eu trabalhava em
circo, levava as duplas, ás vezes ficávamos uma parte da noite em atividade,
mas a noite toda não! Eu levava as duplas para se apresentarem no circo,
naquele tempo não tinha esses cachês que existem hoje, essas festas do peão,
essas festas de exposição então naquele tempo eram somente circo.
O artista era muito bem tratado.
Só que não tinha quase nenhum lucro!
Você ia para um circo trabalhar na base de
cinqüenta por cento da renda, da bilheteria, se chovesse você perdia tudo!
Hoje o Zezé de Camargo e Luciano, Chitãozinho
e Chororó, Daniel, Leonardo, Bruno e Marrone que trabalham comigo até hoje, ele
já vão cantar com o dinheiro no bolso!
Quais são os artistas mais conhecidos do
grande público que o senhor trabalha diretamente?
Eu tenho aqui um CD que comemora 50 anos de
música, é uma homenagem que a gravadora fez para mim.
Aqui têm os artistas que gravaram as minhas
músicas, não todos porque eu gravei mais de 1000 músicas!
Benedito passa a relatar alguns dos grandes
nomes da música brasileira. Não consta neste CD nomes de cantores como Tibagi e
Miltinho, Belmonte e Amarai, Lourenço e Lourival, Pedro Bento e Zé da Estrada,
Trio Parada Dura, Tião Carreiro e Zé Paulo, Zico e Zéca, Zilo e Zalo, Silveira
e Barrinha, Cascatinha e Inhana, Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho.
Gravei com todos eles!
Qual foi a primeira música que “estourou” no
mercado?
Foi o “Seresteiro da Lua” com Pedro Bento e
Zé da Estrada no ano de 1950.
O senhor lembra um pedacinho dela?
Lembro-me sim! Abre janela! Oh! Querida /Venha
ver o luar cor de prata/Venha ouvir o som deste meu pinho/Na canção de uma
serenata. Coisinha antiga!
De onde saiu essa inspiração?
Um cara estava fazendo uma serenata no
interior eu era moleque, e fui assistir a serenata, ele foi cantar para a moça
na janela mais ela não saiu então eu fiz essa música!
O senhor se lembra de um pedacinho da música
Taça da Dor?
Muitas mulheres me querem/ Mas não adianta,
há somente uma que eu amo na vida... São coisinhas românticas.
Depois gravei com Tião Carreiro e Pardinho
“Alma de Boêmio”.
Quando vinha o pagamento do direito autoral,
de três em três meses, hoje é diferente, você recebe todos os meses.
Vinha um dinheiro grande de três em três
meses.
Naquele tempo vinha mais dinheiro para o
compositor?
Dez vezes mais! Não existia pirataria!
Hoje a pirataria tomou conta de tudo!
A sua composição “Boate Azul” é um sucesso
muito grande?
Ela está re-gravada em 70 países, tem na
França, na Espanha, Portugal, Alemanha, Itália, na Dinamarca, vem dinheiro para
mim do mundo inteiro! Não Um dinheirão, os brasileiros que vivem lá pedem pela
internet, agora mesmo me telefonaram dizendo que estava tocando em Londres! Eu
a tenho gravada com uns 80 artistas!
O senhor pode relembrar um pedacinho dela?
Doente de amor procurei remédio na vida
noturna com a/Flor da noite em uma boate aqui na zona sul, a dor do/Amor e com
outro amor que a gente cura, vim curar a/Dor nesse mal de amor na boate azul e
quando a
Noite/Vai se agonizando no clarão da aurora
os Integrantes da/Vida noturna se foram dormir e a dama da noite que
estava/Comigo também foi embora, fecharam se as portas/Sozinho de novo tive que
sair sair de que jeito, se nem/Sei o rumo para onde vou muito vagamente me
lembro/Que estou em uma boate aqui na zona sul eu bebi Demais/E não consigo me
lembrar se quer qual é o nome/Daquela mulher a flor da noite na boate azul.
Aonde o senhor buscou inspiração para
realizar essas composições?
Foi na situação dos outros.
Eu tinha um amigo que amanhecia bêbado na
porta da boate.
Ele era apaixonado por uma mulher dessa
boate.
Ele ficava lá esperando ela sair.
Só que ia bebendo, ia bebendo, na hora de
sair não agüentava mais, então na hora de ir embora ele ficava lá caído na
porta da boate.
É ai que ele fala: “sair de que jeito, se
nem/Sei o rumo para onde vou muito vagamente me lembro/Que estou em uma boate
aqui na zona sul eu bebi Demais/E não consigo me lembrar se quer qual é o
nome/Daquela mulher a flor da noite na boate azul”.
Todas essas composições que o senhor fez são
baseadas em fatos reais?
Cada composição é um caso que aconteceu com
alguém, não comigo!
Fazer amizade com o senhor é meio perigoso?
Não.
Por quê?
Se você tiver um passado limpo, não farei
musica sua!
Eu faço musica só de quem tem um passado de
muitas paixões incontroladas.
O senhor acha que o homem vive em
função das paixões?
A maioria vive em função das paixões!
Se você contar, dos 6 bilhões de habitantes
da Terra, mais da metade é apaixonado!
O homem o senhor acha que vive por dois
motivos: pela paixão e pelo dinheiro?
Exatamente!
Por mulher e dinheiro!
Não tem nem dúvida.
Alimentação é uma coisa necessária, isso
ninguém vive sem.
Mas o dinheiro e a mulher são as molas
mestras do mundo!
Em todos esses casos que o senhor descreve o
senhor se considera um relator das histórias?
De fato eu sou um mensageiro da paixão
alheia.
Seja de homem ou de mulher! Contando uma
história sem por o nome de ninguém! É uma história que pode ser a da metade da
população do mundo!
Alguma vez alguns dessas personagens disse ao
senhor:- Como é que você fez uma música desse jeito?
Tem muitos casos!
Só o Som de Cristal que eu gravei com o
Joaquim Manoel.
E m São Paulo tem uma Boate chamada Som de
Cristal, mas eu não fiz a letra pensando nela!
Fiz pensando na orquestra que tocava musica
estridente como se fosse um som de cristal.
O dono da boate me processou dizendo que eu
estava usando nome da boate dele para fazer sucesso.
A letra dizia: “a casa noturna, boate falada,
lugar de má fama”, e ele achou ruim porque ele queria que eu dissesse: “a casa
noturna, boate afamada, boate de fama”. (Letra: A casa noturna/se mantém a
noite/em clima de festa/De longe e ouve/vários instrumentos/de cordas e metal/
Boêmios bebendo/cantando e dançando /ao som
da orquestra/Um som estridente/que lhe deu o nome /de Som de Cristal/A casa
noturna/boate falada/lugar de má fama/Com as portas abertas/durante a
noite/entra quem quiser/Porém essa noite/Sem que eu esperasse/Entrou uma
dama/Fiquei abismado/Porque se tratava
Da minha mulher/(refrão)/Ela se cansou/de
dormir sozinha/esperando por mim/E nessa noite/resolveu dar fim/A sua longa e
maldita espera/Ela não quis mais/levar a vida de mulher honrada/Se na
verdade/não lhe adiantou nada/ser mulher direita/conforme ela era/Ela
decidiu/abandonar o papel de esposa/para viver entre as mariposas/Que fazem
ponto /naquele local/E a minha vida/muito mais errante/agora
continua/Transformei a esposa/em mulher da rua/A mais nova dama /do Som de
Cristal.
O senhor para fazer suas composições chegou a
fazer um trabalho de pesquisa?
Não.
Eu conhecia histórias nos ônibus, nas
emissoras de rádio, ouvindo os colegas cantando, ás vezes por uma música você
tira outras duas ou três. Pelo assunto de uma musica você inventa outro
assunto! Cria um novo assunto! Pela Boate Azul eu fiz Som de Cristal, que é uma
seqüência mais que ninguém sabe que é uma seqüência!
O senhor chegou a fazer letra de música em
guardanapo?
Em guardanapo não!
Na cabeça eu faço, depois passo a limpo em
casa.
Nos ônibus, de São Paulo para Piracicaba, ou
de São Paulo para Araraquara, no caminho encontro muitos temas para fazer
musicas.
Qual é o melhor lugar, qual é a melhor hora
para criar?
Eu não tenho!
Se você me pedir para fazer uma musica ali
agora eu sento ali e faço! Também não tenho mais esse negócio de inspiração, eu
faço pela pratica! É só achar um tema e faço pela prática.
Sou como um profissional de qualquer área.
No começo era tudo por intermédio de
inspiração, de fazer aquela concentração como se fosse uma meditação.
Agora faço na base de industrialização!
Industrializou-se a música! O artista sempre gosta de por no estilo dele.
Com o César e Paulinho eu gravei umas oito
músicas, mas eu os deixeieles fazerem a vontade, o que fica bem para eles,
porque são eles que irão cantar. A música tem a cara do artista. Daniel canta o
romântico. Teodoro Sampaio cantam mais musica dançante.
Milionário e Zé Rico são românticos a bessa.
Duduca e Dalvan também eram românticos.
Cezar e Paulinho são criadores de tudo, são
versáteis a bessa.
O Senhor se lembra de uma música chamada
“Jorginho do Sertão”?
Jorginho do Sertão é de Cornélio Pires.
Rubens da Silva, o Caçula e Mariano da Silva
- Piracicaba, SP eram Irmãos, trabalhavam na roça quando foram descobertos por
Cornélio Pires e convidados a integrar a Turma Caipira formada por ele.
Foram responsável pela primeira moda de viola
gravada, "Jorginho do sertão", em 1929 pela Columbia, recolhida por
Cornélio Pires:
“O Jorginho do Sertão Rapazinho de talento
Numa carpa de café/Enjeitô três casamento/Logo veio o seu patrão/Cheio de
contentamento/(tenho treis filhas "sorteira que/ofereço em casamento)/Logo
veio a mais nova/vestidinho cheio de fita/Jorginho case comigo/que das treis/sô
a mais bonita/logo veio a do meio/vestidinho cor de prata/Jorginho case
comigo/ou então você me mata/logo veio a mais veia/por ser mais
interesseira/Jorginho case comigo/sou a mais trabaiadeira/Jorginho pegou o
cavalo/ensilhô na mesma hora/foi dizê pra morenada/adeus que eu já vou
me/embora/Na hora da despedida,/AiAiAi/é que a morenada chora/AiAiAi/O Jorginho
arresorveu/é melhor que eu mesmo suma/não posso casá cum as treis, aieu num
caso cum nenhuma”.
Cornélio Pires foi o pioneiro.
Quando eu cheguei a São Paulo só tinha 4
duplas de nome: Torres e Florêncio; Serrinha e Caboclinho, Palmeira e Luizinho
e Tonico e Tinoco. Depois tinha outras duplas menos famosas, como o Brinquinho
e Brioso, Leonardo e Cunha Junior.
Eu cheguei a São Paulo em 1950, a vida inteira eu fui
compositor.
Fui morar em Santo André.
Foi ai que fiquei conhecendo o Ariowaldo
Pires, que era o Capitão Furtado! Ele me disse que tinha um tio que deu o
ponta-pé inicial na musica! Aí então fiquei conhecendo Cornélio Pires! Tiete,
Piracicaba, Sorocaba e Botucatu são os berços da musica sertaneja.
Com vários artistas daqui como Mariano e
Caçula, Serra, Parafuso, Mandi e Sorocabinha.
Isso começou em 1929.
Cornélio Pires era alegre, expansivo,
companheirão, ele era uma patente, juntava as duplas todas da região e levava
para gravar.
Naquele tempo só tinha duas gravadoras! A
Continental e a RCA Victor. Ele levava 10 a 12 pessoas para gravar.
Não tinha gravadora em São Paulo, era só no
Rio de Janeiro, então ele pegava o trem no Brás ia para o Rio de Janeiro,
gravava, aquele tempo era só duas musicas por disco.
Ia bem ensaiadinho, chegava lá, gravava e
voltava.
Na podia errar! Se errasse estragava o disco.
Hoje em dia está muito mais fácil, até eu sou
capaz de chegar lá e gravar! Eu não me lembro muito do Parafuso, porque
ele morreu faz 32 anos, mas ele era espetacular.
Aqui em Piracicaba tinha uma seleção de
repentistas bons! Nhô Serra, Pedro Chiquito.
Em Piracicaba eu só gravei com Garcia e Zé
Matão e Cesar e Paulinho.
O Craveiro e Cravinho antes formavam a dupla
Manico e Maneco! (risos)
O compositor brasileiro diz que compor no
Brasil não dá dinheiro, isso é verdade?
O compositor de uma música, de duas, três ou
até de dez ganha pouco.
Eu tenho muitas músicas. Tenho mias de 1000
musicas compostas, sendo que umas 300 estão em atividade.
Rendendo um pouquinho cada uma.
O senhor é o maior compositor brasileiro
atualmente?
Eu me considero entre os 10 maiores
compositores brasileiros.
Tiro chapéu para José Fortuna, Teddy Vieira,
Anacleto Rosa Junior, Lourival dos Santos, Moacir dos Santos, Goiá, foram os
novos, como César Augusto, Zezé de Camargo, Elias Muniz, Joel Marques, Randall.
No estilo de musica antiga, que tinha aqueles
dramalhões eu fui um dos pioneiros, eu, o Teddy, o José Fortuna, o Goiá (Gerson
Coutinho da Silva)
O senhor acha que a qualidade da música
melhorou ou piorou?
Eu acho que melhorou.
Não a qualidade em si da letra.
A qualidade da melodia melhorou.
A qualidade da letra você tem que acompanhar.
Hoje em dia você não pode mais fazer a letra
de uma história que o pessoal não grava mais.
Então você tem que acompanhar.
Tem muita gente que faz sucesso com a música
apelativa?
O senhor já fez alguma música com letra mais
maliciosa?
Já fiz.
Contra a minha vontade, mas comercialmente
fui obrigado a fazer.
Mulher Boa de Teodoro e Sampaio.
Têm várias músicas assim.
“Essa noite eu pinto aí” é uma música
apelativa, não fala palavrão, ela é maliciosa, induz.
Normalmente é tocada em baile.
É mais em bailão.
O senhor tem algum hobby, além da música?
Gosto muito de pescar.
Mas não sou bom pescador.
Pescando o senhor se inspira?
Tem alguma música que fale de peixe?
Pescando a gente se inspira.
Mas não tenho nenhuma música que fale de
peixe.
Já pesquei no Rio Piracicaba.
Mas não fiz nenhuma musica para o Rio
Piracicaba.
Para bater aquela musica do Lourival dos
Santos e Piraci é muito difícil!
O rio de Piracicaba Vai jogar água prá fora!
O que é isso!
O Craveiro e Cravinho têm outra também muito
bonita.
Não tem jeito de fazer musica melhor que a
deles e para fazer pior eu não faço!
Quanto tempo o senhor leva para compor uma
música?
Ás vezes eu faço uma musica em duas horas, às
vezes demora uma semana!
Depende!
Tem que se achar as palavras adequadas,
primeiro eu faço o rascunho, depois vou procurando a substituição de uma frase
até chegar a um ponto em que ela esteja comercial.
O senhor já fez composição até em fila de
banco?
Ah! Já!
Mas já fiz diversas músicas!
O senhor pretende fazer uma música para Rio
das Pedras?
Preciso ir á prefeitura, pegar os dados da
cidade, vamos estudar o assunto!
O senhor toca algum instrumento?
Não.
Só faço a letra da música mesmo!
O Romantismo não está acabando, antigamente
existia muito mais sentimentalismo!
A modernidade tomou conta.
A paixão é uma coisa eterna.
Eu escrevo música para crianças, jovens,
terceira idade, quarta idade!
O senhor gosta de dançar?
Não.
Mas gosto de escrever musica de dança!
Musica de bailão eu escrevo muito!
Qual é a sensação do senhor ver o pessoal
dançar uma música escrita pelo senhor, ou ouvir uma música de sua autoria?
Isso se torna um caso até meio chato!
Quantas vezes eu estou andando no ônibus e
escuto o cara cantando minha musica!
Você acha que eu vou chegar nele e dizer essa
musica é minha!
Não tem cabimento!
Em todas as casas noturnas que eu chego eles
cantam Boate Azul!
Eu vou chegar lá e falar que essa música é
minha!
É chato não é?
O pessoal quando descobre que sou o autor
fica curioso demais! Principalmente quem esta assistindo!
Quem está cantando não é tanto.
Quem está assistindo vem perguntar por
que o senhor fez aquela musica?
Ai é que está o meu problema! Eu chego em Boa Esperança o povo
está cantando a minha música. Vou para Araraquara estão cantando, chego aqui
estão cantando. Se eu chegar lá chega aquele monte de perguntas. Você sabe que
eu tenho problema auditivo, operei agra melhorei um pouco.
O senhor é uma pessoa extremamente reservada,
está sempre sendo assediado para comparecer em programas em rede nacional. Qual
o motivo dessa sua reserva?
Eu sou uma pessoa de certa idade, a minha
imagem não tem mais interesse para a televisão.
Eu acho que não.
Esse é o meu problema de achar.
Acho que se chegar à televisão o povo irá
dizer: -
O que esse velho, ta enchendo o saco ai!
Eu tenho medo do ridículo.
O Ratinho cansou de me chamar.
A artista Inezita Barroso, quantas vezes ela
quis me homenagear como compositor, e eu não fui.
Eu gosto dela barbaridade, gosto do Ratinho
Barbaridade!
O Faustão mandou um recado por intermédio do
Bruno e Marrone, para que eu vá lá.
Não fui ao Gugu.
Não fui ao Raul Gil.
Gostaria de ir, mas se tivesse uma imagem
condizente!
A sua formação musical é natural?
É natural.
Não estive estudo nenhum, só o quarto
primário.
Tudo o que eu sei foi através da escola do
mundo.
Da vivência.
Qual foi a música que lhe deu mais
satisfação?
É difícil numerar uma só porque eu tive mais
de 50 musicas que me deram prestigio.
A mais famosa é Boate Azul.
Existe alguma música que o senhor fez e não
gostaria de ter feito?
A maioria!
Tem uma que se eu pudesse apagar eu apagava,
foi Alma de Boêmio.
Tem uma palavra que eu não uso mais.
Tirei do vocabulário.
Naquele tempo era comum isso ai.
É a palavra desgraça!
Escrevi isso ai nos anos 50.
“A minha sorte foi tirana e deslinda estou
sofrendo por amar quem não me quer/Isto acontece para/um homem que acredita que
existe amor no coração duma mulher/Por mais que eu queira esquecer o meu
passado meu sofrimento e viver pensando nela/E os amigos só para me ver
magoados quando me encontra vem me dar noticias dela/Só tenho as ruas e a
bebida como herança essa mulher me deu esse maldito prêmio/E hoje dela só me
resta uma lembrança a torturar a minha alma de boêmio/Embriagado passo as noites
pelas ruas ninguém tem pena deste meu triste viver/Olhando ao céu quanto
contemplando a luz da lua me representa a sua imagem aparecer/Foi o desgosto
que atirou-me nesta vida abandonado e renegado pelo mundo/Eu vivo sempre
naufragado na bebida tornei-me apenas um boêmio vagabundo/Perdi amigos perdi
tudo que já tive em altas noites só o sereno me abraça/Essa mulher na mesma rua
ainda vive bebe com outro a brindar minha desgraça/Declamado voz mulher/Se hoje
vive mal trapilho pela rua/A culpa é toda tua não soubeste me conservar/E por
vingança hoje eu bebo nesta taça/A brindar tua/desgraça na mesa deste
bar/Declamado voz homem/Segue, segue bebendo que eu continuo vivendo assim/E
quando chegar meu fim que eu partir deste mundo/Ais de lembrar com saudade que
já foi para eternidade/Eu boêmio vagabundo/Foi o desgosto que atirou-me nesta
vida abandonado e renegado pelo mundo/Eu vivo sempre naufragado na bebida
tornei-me apenas um boêmio vagabundo/Perdi amigos perdi tudo que já tive em
altas noites só o sereno me abraça/Essa mulher na mesma rua ainda vive bebe com
outro a brindar minha desgraça”
O senhor conviveu com muita gente famosa,
como Inezita Barroso, Airton e Lolita Rodrigues, Adoniran Barbosa, Caçulinha.
Demônios da Garoa.
O que você acha desse pessoal?
Conheci Inezita Barroso quando ainda era
cantora, é um amor de pessoa! Um ser humano espetacular.
O Airton e a Lolita tinham o programa Almoço
com as Estrelas.
Caçulinha é filho do Caçula, o conheço há
muito tempo.
Eu gostava muito do Arnaldo do grupo Demônios
da Garoa.
Adoniran Barbosa, o Charutinho, a gente se
encontrava na Sociedade dos Autores e tínhamos bastante amizade, sempre foi
sarrista.
Waldick Soriano é muito bom.
Francisco Alves, o Chico Viola o senhor
conheceu?
Ele morreu no ano de 1952, eu tinha 21 anos.
Foi uma tristeza muito grande.
E Nelson Gonçalves?
Nelson era gente fina, ele era romântico, mas
morava no Rio de Janeiro. Eu não tinha muito contato com ele.
A gente se encontrava na gravadora.
Era terrível falar com ele, ele era gago para
falar!
Cantando não!
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
APRESENTAÇÃO JOÃO
UMBERTO NASSIF
14 DE AGOSTO DE
2004
ENTREVISTADOS BENI
GALTER E NELSON LOURENÇO
Aspectos locais de Santa Bárbara D Oeste, que
cresce como cidade mas não perde sua identidade. Um pouco da essência do
romantismo do seresteiro, a força com que a alma coletiva permanece na
lembrança da sua gente.
A imagem congelada através do tempo sem
perder o calor e a vibração que motiva centenas de pessoas a se reunirem em uma
praça para entoar um hino de louvor aos bons tempos, a mulher amada, a saudades
de alguém ou de alguma coisa. Parece incrível, mas isso existe e acontece. É o
momento do relaxamento, do abastecimento de energias para novas empreitadas. Ou
simplesmente por puro devaneio sadio e irreverente. Santa Bárbara D´Oeste tem em Beni Galter um dos
grandes valores musicais e a música brasileira tem em Beni Galter um
verdadeiro missionário.
Beni Galter você nasceu em Santa Bárbara D ´Oeste?
Acidentalmente eu nasci em São Paulo, isso
porque os meus pais eram de Americana. Por ocasião da Segunda Guerra o meu pai
ficou desempregado, ele era mecânico do ramo têxtil, ele casou-se e mudou-se
para São Paulo em função do emprego que ele conseguiu lá. O meu pai nasceu em
Araras, a minha mãe em
Limeira. Galter é de origem austríaca. Meu avo era austríaco.
A minha avó era italiana. Isso pelo lado
paterno. Do lado materno são espanhóis, família Molina. O meu gen musical deve
ser da Áustria, mas os espanhóis gostam muito de música, é um povo muito
alegre, embora seja meio guerreiro por temperamento.
È um povo que acredita e luta pelo que
acredita.
Você é casado?
Sou casado, muito bem casado, aliás, uma das
grandes dádivas que Deus me deu é a esposa que eu tenho e quatro filhos
maravilhosos.
Sua atividade principal qual é?
Eu tenho uma pequena indústria de etiquetas
tecidas para vestuário.
Quando você descobriu que gostava de música?
Logo após nascer e começar a crescer.
(Nelson Lourenço, violonista que acompanha
Beni Galter diz que ao receber o tradicional tapinha por ocasião do seu
nascimento, Beni Galter não chorou... cantou!!!!)
Nelson Lourenço é natural de Araras, por
volta de 1992 mudou-se para Santa Bárbara D´Oeste, a música acabou
aproximando-o de Beni Galter. É metalúrgico, trabalha nas Indústrias Nardini em
Americana.
Toca violão desde os 10 anos de idade.
Beni Galter você toca algum instrumento?
Nunca toquei instrumento nenhum. O que a
minha mãe conta e eu não me lembro bem, é que os meus tios gostavam muito de
música. Alguns tocavam violão. Gostavam de cantar. Eram mais instrumentistas do
que cantores. Eu desde pequenininho gostava de cantar. Eles me colocavam atrás
de uma porta, entreabriam a porta, eu pequenininho, com 3 anos de idade, eu
ficava atrás da porta, desde o começo o meu negócio foi rádio, som e não
imagem... Então, eu atrás da porta cantava, se me tirassem detrás da porta, se
eu tivesse que encarar o publico eu caia fora. Eu era tímido. O tempo faz
coisas que até Deus dúvida...
Em sua opinião quem é o melhor músico do
Brasil?
É difícil falar, porque o Brasil é um país
muito rico musicalmente falando. Nós temos por volta de 36 a 38 ritmos musicais
diferentes.
Você não encontra nenhum país com a riqueza
musical que nós temos. Por isso procuro sempre falar da música brasileira,
tocar música brasileira, porque é uma música riquíssima, respeitada pelos
outros povos, mas não tão bem respeitada como deveria pelo nosso povo, pelo
menos por uma parte do povo.
Para falar um pouco da história de Santa
Bárbara D Oeste podemos iniciar perguntando quem foi Dona Margarida?
Dona Margarida da Graça Martins, viúva do
sargento-mor Francisco de Paula Martins, por volta de 1817 adquiriu uma
sesmaria, e saindo de Santos para cá se dirigiu com seus filhos, parentes e
escravos. Ela doou terras para que fosse construída uma capela em louvor a
Santa Bárbara que foi erguida em 1818, ano da fundação de Santa Bárbara. Com o
passar do tempo se formou uma vila ao redor da capela, aos poucos se tornou uma
pequena cidade. Hoje temos cerca de 180.000 habitantes.
O nome Santa Bárbara D Oeste é para
diferenciar de outras cidades que levam o nome de Santa Bárbara como, por
exemplo, Santa Bárbara do Sul, Santa Bárbara de Goiás, Santa Bárbara do Rio
Pardo, Santa Bárbara que fica a 112 quilômetros de Belo Horizonte.
A imigração americana está presente em Santa Bárbara ?
Existe um ponto turístico que as forças vivas
da cidade se mobilizam no sentido de explorar o turismo de forma mais
apropriada.
Nós temos um cemitério típico
norte-americano.
Na ocasião da imigração dos norte-americanos
para o Brasil com o término da Guerra da Secessão vieram inúmeras famílias para
Santa Bárbara que acabaram criando a cidade de Americana.
O nome Americana era inicialmente denominado
Vila Americana.
Era uma vila de americanos que se formou em
torno de uma estação ferroviária de Santa Bárbara D Oeste.
Os norte-americanos vieram com uma
mentalidade mais arejada. Mais avançada.
O primeiro arado nacional foi construído em Santa Bárbara pelos
norte-americanos.
Quando os primeiros norte-americanos começaram
a falecer, os mais antigos houve um problema com o pessoal da Vila Santa
Bárbara que era totalmente católico. Um dos padres daquela época criou certa
dificuldade e os americanos foram forçados a criar um cemitério para enterrar
as pessoas de origem norte-americana, que eram presbiterianos.
Não eram aceitas no cemitério católico.
Hoje naturalmente a mentalidade é outra. Até
se lamenta que tenha ocorrido isso.
Mas em conseqüência desse acidente nós temos
um cemitério que ninguém tem!
Com suas características, com sua capela,
tudo dentro dos padrões norte-americano.
O Jimmy Carter já esteve em Santa Bárbara D
Oeste visitando esse cemitério.
O Cemitério do Campo ou Cemitério dos
Americanos é um pólo de atração turística, que se devidamente explorado poderia
trazer muitos recursos, não só para Santa Bárbara, mas para toda a região.
A Sociedade de Descendência Norte-Americana
realiza encontros periódicos nesse cemitério. São pessoas do Brasil todo que se
locomovem para Santa Bárbara para se reunirem em festividades de caráter
norte-americano.
O fundador da Colônia Confederada foi o
Coronel William Hutchinson Norris, nascido em Oglethorpe, Geórgia.
Ele mudou-se para o Alabama, foi senador pelo
Texas, era advogado.
Ao término da Guerra da Secessão o Coronel
Norris reuniu a sua família e rumou para o Brasil. O Imperador D.PedroII
recepcionou os sulistas pessoalmente, graças aos contatos que o Coronel Norris
tinha na Maçonaria e ao interesse que o Brasil tinha nas técnicas agrícolas
refinadas que os sulistas traziam, particularmente no cultivo de algodão.
Os imigrantes adquiriram terras no
Estado de São Paulo a 22 centavos de dólar por acre (um acre tem cerca de
4047metros quadrados, apenas para efeito comparativo um quarteirão em nossas
cidades medem 100 metros
de comprimento, totalizando o quarteirão todo 10.000 metros quadrados ).
O cemitério começou com o sepultamento de
Beatrice Oliver, esposa do Coronel Oliver em 1867. Existe uma inscrição em uma
das lápides:
Soldado descansa! Tua luta acabou. Dorme o
sono eterno, onde não há dias de fadiga,ou noites de vigília.
Você além de cantar muito bem, conhece e
explica a história de cada música, sua origem, razão por que foi composta e
quem ou o que serviu de inspiração.
Conheço razoavelmente. Ninguém conhece
totalmente a história que dá origem a uma música. Eu gosto de pesquisar e então
me dedico um pouco mais talvez.
Eu tenho dois programas de rádio semanais,
gravados durante a semana que os antecede.
Um na Rádio Luzes da Ribalta, programa que se
chama Compromisso com a saudade, são 3 horas de programa aos domingos das 6 às
9 da manhã.
E aqui em Piracicaba, na Rádio Educativa FM
também mais 3 horas aos domingos das 8 às 11 horas da manhã, programa que se
chama Pelos caminhos da saudade, é uma herança de uma responsabilidade muito
séria que nos foi outorgada pelo grande historiador, advogado, contabilista que
foi Manoel Lopes Alarcon que apresentou esse programa durante 23 anos.
No último dia 3 de agosto comemoramos o
primeiro ano que esse programa tem a nossa cooperação. Eu e o Fábio Monteiro
apresentamos o programa pela Educativa FM.
Também presente nos estúdios da Rádio
Educadora de Piracicaba, o radialista Nadir Roberto, que acabara de apresentar
o seu programa que foi ao ar das 9 às 10 horas, ou seja, nos antecedeu, e diz
que não se esquece de Manoel Lopes Alarcon.
Beni, você está trazendo uma caravana de
cerca de 180 pessoas para uma seresta em Piracicaba?
Veja como é a magia da música.
É uma coisa que nos leva a viajar na memória.
Eu tenho comentado nos meus programas de
rádio em Santa Bárbara
das serestas que se faz aqui em Piracicaba, eu acho que é uma das poucas, senão
a única do Brasil com essa envergadura.
Uma vez por mês, na sexta feira, você vê 1500 a 2000 pessoas no Largo
dos Pescadores. Já faz 3 anos e meio que eu participo. E comento isso lá em Santa Bárbara.
Recentemente alguém me ligou e disse: Você fala e a gente
fica com vontade de ir.
Nós podemos freqüentar a seresta?
Eu respondo que sim, porque é público.
Disso nasceu a idéia de trazermos em um
ônibus os possíveis interessados em vir para Piracicaba.
A repercussão foi tão grande que eu tenho 180
pessoas que estarão vindos para cá no próximo dia 20 de agosto. São 3 ônibus e
carros particulares.
O que é Clube das Avencas?
Eu não tenho conhecimento de que exista em
outro lugar senão em
Santa Bárbara. Pode até existir, mas não é do nosso
conhecimento.
É voz corrente lá na cidade, de que é um
clube criado, com origem em
Santa Bárbara D Oeste.
Por que Clube das Avencas?
Duas condições básicas para ser admitido,
para pertencer a esse clube que se reúne no Centro do Professorado lá em Santa Bárbara D
Oeste.
Primeira condição: tem que ser professora ou
professor.
A segunda condição: tem que ser aposentado.
Por isso se chamam avencas.
Eles entendem que o professor aposentado ou
professora aposentada vive na sombra como a avenca daí se originou o nome.
É um grupo muito alegre, estarão aqui conosco
no dia 20 de agosto, no Largo dos Pescadores. Vão se apresentar.
Eles cantam.
São muito inteligentes, tem muito bom gosto.
É um pessoal muito culto, é muito gostoso
tratar com eles.
O que é o Clube do João em Santa Bárbara D
Oeste?
O Clube do João segundo dizem é originário de
lá.
Para pertencer ao clube tem que ter o João no
nome.
Pode ser João José, João Geraldo, mas tem que
constar o João.
Você pode levar o Joãozinho.
Eles fazem uma reunião anual. Já fui uma vez
para cantar na festa deles.
O José João Belani é dos organizadores.
São bem organizados, com diretoria e tudo!
Nadir Roberto conta que foi telegrafista em Santa Bárbara D
Oeste em 1950,
e que Emilio Romi é natural de São José do
Rio Pardo.
Ele foi para a Itália, participou da Guerra,
ficou muito ferido, e a enfermeira mais dedicada acabou se casando com ele.
Nadir ainda diz se lembrar de Juscelino
Kubitschek andando de Romiseta.
Beni Galter apresenta mais uma música,
acompanhado de Nelson Lourenço ao violão.
Você se apresenta em shows particulares?
Eu gosto de cantar e faço apresentações por
ai sempre que convidado e sempre que possível há mais de 20 anos.
Nunca cobrei um tostão.
Nunca.
Vou cantar em instituições de caridade, pela
beleza da música, ela me faz bem a saúde!
Eu acho que deve fazer bem a muita gente, a
música brasileira autentica que a gente tenta manter de alguma maneira atual.
Você chegou a andar de Romiseta?
Cheguei sim.
Inclusive eu trabalhava nas Indústrias Romi
na época do lançamento da Romiseta.
Foi na década de 50.
Ela tem um formato anatômico e ela é feita de
tal maneira que teoricamente, era o que diziam, ela só ficaria na posição em
que as 4 rodas estivessem no chão, de outra forma ela rolaria até chegar a essa
posição.
Ela parecia um ovo realmente.
A única porta abria para frente, deslocando o
volante junto.
A Romi fez uma fusão com a Isetta italiana.
A família Romi tem muito vínculo com a Itália.
Inclusive a Dona Pia, esposa do Comendador
Américo Emilio Romi era italiana, como o Nadir Roberto comentou.
O Comendador se feriu quando combatia na
Primeira Grande Guerra.
Ele caiu de uma motocicleta.
Ele era mensageiro, estava levando uma
mensagem de uma cidade à outra e com certa pressa, com cuidado em decorrência
da situação em, que se vivia, capotou com a moto, se feriu, ficou
hospitalizado.
Nesse hospital conheceu Dona Pia, que era
enfermeira, casada, já tinha um filho, o Sr. Carlos Chiti, ainda vivo e
bastante lúcido Graças a Deus.
O Comendador se casou com Dona Pia (Olímpia
Gelli) e vieram para o Brasil.
Os demais filhos nasceram aqui. São
brasileiros.
Ele começou com uma oficina mecânica, de
manutenção de automóvel que era a especialidade dele. Ele era muito
empreendedor, tinha aquela característica do imigrante que vem para a América.
Tive o privilégio de falar com ele por duas
ou três vezes.
Eu tinha 18 anos quando fui trabalhar na
Romi.
Isso foi em 1958.
Santa Bárbara deve ao Comendador Américo Emilio
Romi muita coisa.
A Romiseta é o primeiro carro brasileiro.
Ele criou o primeiro trator brasileiro!
Esse trator se chamava TORO, que por
circunstancias que desconheço não foram fabricados em série.
Quem são os limparianos?
Limparianos é um clube originário lá de Santa
Bárbara D Oeste.
É um clube constituído, tem diretoria que se
renova a cada dois anos, tem estatuto, embora eu não faça parte do clube vou de
vez em quando para os jantares.
O nome Limparianos tem sua origem por que o
pessoal gosta muito de comer e come tudo que sobra nas travessas, são pessoas
que LIMPAM os pratos!
Daí originou-se o nome LIMPARIANO! É um clube
que se reúne para uma confraternização, mas com uma mesa farta.
Os primeiros limparianos começaram a se
encontrarem toda quarta-feira num determinado restaurante, primeiro foram dois
amigos, depois três, de repente tinha meia dúzia, logo tinha dez ou doze, ai
começaram a pensar na possibilidade de criar um local para isso.
Depois de conseguirem o local esse número de
pessoas foi para 30, 40 membros, se viram na contingência de criarem regras,
diretoria, alguém que determinasse onde seriam os eventos, promoções, e
começaram a arrecadar dinheiro com o objetivo de ajudar as instituições.
É o que eles fazem até hoje.
Acaba sendo um clube de serviços.
Contato com João Umberto Nassif:
joão.nassif@ig.com.br
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